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Sobre psilucianorodrigues

Psicólogo, Psicoterapeuta.

“Gratidão 2014.”

Não pensei em escrever nada relacionado a essas datas festivas. Natal e Ano Novo. Porém, alguns acontecimentos pessoais me incentivaram a compartilhar com vocês essas poucas palavras.

Depois veio o medo. Medo de cair em “autoajuda” e de fugir da Psicologia. A eterna preocupação com os elogios e as críticas, mas acho também que o desejo em oferecer um conteúdo com um mínimo de qualidade.

Gratidão…por que nomear o que me mobilizava emocionalmente com essa palavra? Vamos à definição do Dicionário: “Qualidade de grato, agradecimento, reconhecimento por benefícios recebidos.”

Talvez tenha sido sugestionado pelas mensagens das redes sociais, onde nem sempre as informações postadas refletem a realidade. Talvez sim…

Mas já que o desejo surgiu, vamos lá! Comecei a relembrar fatos: realizações, encontros, conquistas, perdas, transformações, decepções. Os pensamentos deram origem ao que nomeei de “mobilização”. Ativaram a minha emoção. Aquilo inexplicável, que surge parece que de dentro do peito, mas que por algum motivo não se trata, no meu entender, de angústia. Aí comecei a achar que se tratava de GRATIDÃO. Ou ao menos poderia chegar próximo com o que conheço como tal.

Eu me sentia “agradecido” com aquela sequência de imagens que passavam como um filme na minha cabeça. Mas agradecido por quê? Não poderia sentir “felicidade” ou “alegria”? Acredito que sim, poderia. Mas a tal da GRATIDÃO era quem reinava naquele instante.

Não quero aqui entrar no mérito da GRATIDÃO em si, do significado objetivo e racional apresentado. Mas falar de algo que nos mobiliza interiormente que por um acaso ou não “resolvi” nomear assim. Agora sim acredito poder falar em Psicologia, pois entram em cena a emoção, o sentimento, o sentir, as relações que estabeleci com os fatos que citei no início desse texto.

E do que se trata isso tudo, se não da VIDA? Dos vínculos e das pontes com cada acontecimento delimitado por um período de tempo que criamos para nos referenciar: nesse caso início de 2014/ final de 2014.

E por incrível que pareça são essas pequenas/grandes conexões que fazemos, sentimos, causam reflexão e que nos mobilizam. Ocasionando a oportunidade de inventar um sentido para elas, seja de que ordem for, não importa. Religiosa ou científica, objetiva ou não objetiva. O que importa é que a VIDA se faz presente em cada momento que nos mexe internamente. E acho que é por isso que sou grato a ela, a VIDA. Por me fazer experimentar esse “movimento” interno, tão difícil de definir, mas tão caro em sentir.

Aproveitando que vocês conseguiram chegar até aqui deixo registrado o meu desejo de um 2015 de realizações e criações. Que possamos ter a liberdade de experimentar e expressar a VIDA!

Agradeço também a oportunidade de compartilhar os meus pensamentos com vocês.

Forte abraço a todos, em especial para Luana Zanelli e André Lima!

O Psicólogo e a Educação Infantil

Esse texto foi escrito em Novembro de 2010 para um jornalzinho informativo que circulava mensalmente na Universidade onde fiz a especialização em Terapia de Família.

Nessa época eu trabalhava em uma instituição de Educação Infantil localizada na Cidade de Deus, zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Tratava-se de uma instituição pública, na ocasião comandada pela Fundação para a Infância e Adolescência (FIA), pertencente ao Estado. Depois ela passou para a administração municipal, respeitando a hierarquia dos poderes. Como se tratava de um universo novo (e maravilhoso) resolvi procurar uma supervisão para dar conta das minhas dúvidas e angústias com relação ao trabalho e às práticas dessa nova experiência.

Percebi que, além da supervisão, era também necessário me instrumentalizar teoricamente para me apropriar cada vez mais do meu trabalho. Como o trabalho com as famílias das crianças era intenso resolvi fazer Especialização em Terapia de Família. Deixo aqui registrado que não era o objetivo fazer “terapia” com as crianças, muito menos com as famílias. Mas entender e conhecer mais sobre as mesmas para que as intervenções fossem as mais satisfatórias é éticas possíveis.

Hoje meu contato com a Educação Infantil se dá através de supervisões que ofereço a colegas que tem interesse ou trabalham com Educação Infantil.

Confesso uma coisa: foi uma das experiências mais gratificantes que vivi e agradeço sempre a oportunidade de ter atuado nesse espaço.

“O Psicólogo e a Educação Infantil”

“O intuito em produzir esse texto partiu de algumas perguntas que geralmente me fazem quando falo de uma das minhas atividades: “O que o Psicólogo faz numa creche?”

A visão que ainda se tem do trabalho psi é o relacionado à parte Clínica, porém sua atuação passa a ser diferenciada quando o mesmo encontra-se inserido em uma instituição, seja ela de que natureza for (penitenciária, escola, empresa, hospital etc.).

Mas voltando a questão inicial e reformulando a pergunta: “Como o profissional da Psicologia pode contribuir para a Educação Infantil, mais especificamente atuando na instituição creche?”

Em primeiro lugar, o profissional que se aventurar nesse ambiente de aprendizado e conhecimento deverá levar em conta que não cabe nesse espaço os mesmos atendimentos que são realizados em postos de saúde ou em consultórios, onde geralmente, pratica-se o que chamamos Psicoterapia.

Outro ponto a ser levado em consideração é que o psicólogo estará atuando com outros profissionais como Professores, Auxiliares de Educação, Coordenadores e Orientadores Pedagógicos e em alguns casos além dos citados anteriormente poderá também deparar-se com Assistentes Sociais, Pediatras, Nutricionistas, Educadores Físicos, Fonoaudiólogos além de outros atores que não lidam diretamente com as crianças como o Pessoal de Apoio e a Direção.

Nesse sentido, é importante que o Psicólogo conheça a estrutura da creche e as atribuições dos outros profissionais para que possa, dentro de sua área de atuação, promover as intervenções que se façam necessárias.

Com relação às crianças propriamente ditas, além das observações constantes com as mesmas nas atividades propostas é importante que o profissional tenha acesso às famílias, podendo assim conhecer sua dinâmica e particularidades. Uma boa orientação ou um encaminhamento realizado de forma coerente ás famílias poderá trazer muitos benefícios à criança.

É pertinente também que o Psicólogo esteja instrumentalizado prática e teoricamente para lidar com temas específicos como: a) a adaptação, que não se resume à adaptação das crianças ao novo ambiente, mas também à adaptação das famílias com o começo de uma nova rotina, que é a entrada do filho na creche; b) a sexualidade infantil: não importa com qual faixa etária estaremos lidando, o tema da sexualidade estará presente na maioria das vezes no cotidiano da creche.

O profissional deverá estar preparado para orientar e acolher as dúvidas e anseios dos professores e também das famílias, que em alguns casos podem não se encontrar preparadas para lidar com a sexualidade dos pequenos; c) a parceria com os educadores: por mais que observemos as crianças, temos que admitir que a maior parte do tempo dos pequenos é passada com os professores. Sendo assim, devemos escutá-los com muita atenção, valorizando seus relatos e impressões acerca do trabalho que realizam e, principalmente da relação que estabelecem com as crianças.

Mesmo priorizando intervenções que procurem abarcar o maior número possível de indivíduos o Psicólogo deverá ter certa dose de sensibilidade para perceber sinais que apontem para possíveis patologias da infância relacionadas ao desenvolvimento como o autismo, por exemplo.

Além da sensibilidade citada anteriormente, a constante avaliação das suas intervenções aliadas a doses de criticidade com relação às suas práticas também é necessária para que não haja a produção ou reprodução de preconceitos e arbitrariedades. Com relação a isso, visitas periódicas e permanentes ao Código de Ética Profissional do Psicólogo auxiliam consideravelmente as angústias inerentes à profissão.

Outra possibilidade de avaliação de suas práticas é a constante atualização através de leituras e também, se possível, participação em grupos de estudos e supervisão com um profissional que possua mais experiência na área.

Por fim, é preciso respeitar os limites das nossas atribuições como profissionais, realizando os encaminhamentos que julgamos necessários e respeitar também nossas limitações como seres humanos tendo consciência de que nem tudo que chega a nossa escuta nós seremos capazes de resolver ou oferecer uma solução imediata.”

Luciano Rodrigues

Psicólogo/Psicoteraputa

CRP 05/33935

“Psicólogo é para rico.”

No post anterior, alguns leitores pediram que eu falasse um pouco sobre o valor, o “dinheiro”, no que diz respeito à Psicoterapia.

Como de costume, priorizarei uma linguagem acessível, um bate papo informal, com o desejo de que as reflexões estejam ao alcance de todos os interessados no tema.

Costumo ouvir: “hum…psicólogo é para rico”, ou “não poderei arcar com um tratamento”, ou ainda “só no particular mesmo, por que no serviço público não tem”.

É claro que essas falas não surgiram do nada. Elas nasceram de um ou mais contextos de informações e experiências que foram se cristalizando ao longo do tempo.

No texto anterior apontei a jovialidade do reconhecimento da Psicologia como prática profissional no Brasil: pouco mais de meio século apenas.

Até hoje a reconhecemos tradicionalmente voltada para a prática clínica, com a imagem do paciente deitado em um divã e o Psicólogo sentado em uma confortável poltrona fazendo as suas anotações.

Essa imagem foi herdada da Psicanálise, lembram?

Aliás, a questão do dinheiro, do valor a ser pago ao analista é um tema bastante “caro” à Psicanálise e “rende” estudos e discussões acaloradas aos Psicanalistas. Mas isso deixemos para os estudiosos do tema.

Poderia abordar esse tema, o “valor”, o “dinheiro” sob vários ângulos, no entanto, me aterei a dois. O primeiro diz respeito às frases citadas acima, onde o trabalho e o acesso ao Psicólogo é distante, praticamente inacessível e caro, em termos de valor.

O segundo, ao contrário, diz respeito ao fato de que o seu trabalho seria meio “filantrópico”, vamos assim dizer.

Talvez a primeira ideia (serviço inacessível) seja a mais difundida, mas a segunda (serviço filantrópico) também não é incomum, e circula mais entre os profissionais. Certa vez ouvi de um colega: “essa ideia de que o Psicólogo não deve cobrar a primeira sessão me irrita profundamente”. Outra possibilidade é a de que, muitas vezes, o Psicólogo é confundido com a imagem do médico e aí temos a questão do “sacerdócio”, da caridade…

A imagem de que os serviços prestados pela Psicologia são inacessíveis podem ser pensados por um prisma econômico e social.

A associação da Psicologia com a Psicanálise contribuiu em muito para essa “meia verdade”. A ciência Psicológica voltada para um mundo interior do indivíduo, para um entendimento da personalidade fez com que a mesma se dissociasse da massa, do coletivo. Ora! Poucos tem a oportunidade, o tempo e o privilégio de pensar sobre si mesmo. Sabe aquela história de que trabalho intelectual é para ricos, trabalho braçal e repetitivo para pobre, “depressão” é frescura e por aí vai? Pois é…Por mais que as novas tecnologias e os avanços na distribuição de renda, bens e serviços tenham “reorganizado” essa realidade ainda encontramos resquícios dessa herança.

A imagem mais vendida da Psicologia foi essa: a de uma ciência voltada para a individualidade e acessível a poucos, ideias extremamente corroboradas pela mídia.

Darei um exemplo. Quem assiste novelas pode lembrar isso. Nas tramas, geralmente, coexistem um núcleo mais abastado, os ricos, e outro núcleo menos abastado, os pobres. Se pensarmos em termos de cidade do Rio de Janeiro, a zona norte e a zona sul (se bem que isso atualmente é muitíssimo relativo). Alguém, dos leitores noveleiros, que acompanham ou acompanharam novelas, recordam-se de algum personagem do núcleo menos abastado que fizesse “análise”? Ou que foram a terapia? Eu, no momento, não me recordo. Rsrsr

Agora exploremos o segundo aspecto: o de que o trabalho profissional estaria ligado, vamos assim dizer, com uma espécie de assistencialismo. Para facilitar as nossas reflexões pensemos nas seguintes imagens: a do médico, a do padre, a do pastor, a do amigo conselheiro e ouvinte entre outras. O que essas imagens têm em comum? Poderíamos pensar, em suas devidas proporções e peculiaridades, que tratam-se de imagens que aconselham, acolhem, escutam, ou seja, tentam amenizar a dor.

E uma (digo uma, pois são várias) das imagens que o senso comum construiu para o Psicólogo foi essa! A do profissional que entende e compreende tudo, a de uma espécie de mediador, que resolve os problemas e que, acreditem, não tem problemas!

Agora uma observação bastante pertinente que tem a ver com a função de mediador do Psicólogo. Uma das atribuições da profissão pode ser sim a de mediador, principalmente quando o psi atua em instituições. Cabe lembrar, no entanto, que são atribuições embasadas pelas teorias e orientações da Ciência Psicológica.

Os quadros que foram expostos anteriormente, no momento, estão se redesenhando.

Atualmente, os Psicólogos encontram-se inseridos nos mais variados espaços. A imagem de um profissional que pensa somente o individual, divide-se com aquela que também vê no coletivo possibilidades de atuação.

Não é possível pensar até mesmo a Clínica desvinculada do social, do coletivo. Ainda mais nos dias de hoje, que nos mantemos conectados a maior parte do tempo. Importantes orientações teóricas estudam essa relação da Clínica com o social e a política.

Sendo assim, o que podemos observar atualmente é uma forte presença do Psicólogo nas mais diversas instituições lidando com o coletivo e com os grupos. A ideia de que sua atuação se restringe aos consultórios e a uma certa “inacessibilidade” aos poucos está se desconstruindo. Não retiro, no entanto, a nossa responsabilidade como profissionais por esse lugar ocupado: o de “inacessibilidade” e o de que os serviços Psicológicos são para poucos. Mas isso já seria tema para um outro diálogo entre nós…

Não sei por que, mas achei o texto que compartilho hoje com vocês um pouco, vamos assim dizer… “denso”.

Espero que eu tenha, de alguma forma, conseguido, não esgotar o tema, mas refletir sobre os interesses que percebi estavam presentes nos valiosíssimos comentários de vocês feitos anteriormente.

Um forte abraço!

Psicólogo Luciano

CRP 05/33935

“Psicoterapia: Verdades, meias-verdades e inverdades.”

Primeiramente quero comentar sobre algumas críticas que tenho recebido de outros profissionais.

A forma simples e acessível de dialogar com os leitores não agrada aos mais “exigentes”, academicamente falando.

Mas tudo bem! O que gosto de compartilhar, os críticos talvez saibam até mais do que eu. Quem eu desejo atingir são as pessoas que encontram-se próximas da minha prática cotidiana e não escrevo diretamente para os colegas de profissão.

Vamos ao tema do nosso bate-papo: “Psicoterapia: Verdades, meias-verdades e inverdades.” O primeiro título pensado foi: “Psicoterapia: conversando sobre mitos”. Mas pensei, pensei e cheguei à conclusão que esse título talvez não fosse adequado para o que eu desejo expor.

A palavra MITO, dentro da orientação teórica que acredito, e na importância que seu significado carrega ficaria desvalorizada, despida de seu verdadeiro valor, tanto em termos Psicológicos, quanto em termos sociológicos.

Darei um exemplo: muitas religiões, acredito que a maioria delas, baseiam-se em Mitos para explicar as suas práticas, os seus rituais, as suas “verdades”. Se considero que o mito é uma inverdade, ou que não existe ou existiu eu poderia estar ofendendo os religiosos, dos monoteístas aos politeístas.

Sendo assim, o MITO para mim, seja ele qual for, é de suma importância para a formação da personalidade humana e para a organização social, por isso não utilizei a palavra, pois denotaria como algo que não existe, que se caracteriza como mentira ou mesmo equívoco.

E como acredito que a função do Psicólogo é entender a VIDA no sentido mais amplo possível, inclusive levando em consideração a força dos Mitos resolvi então…não usar o termo mito.

Não esgotarei esse assunto aqui e agora nesse texto, mas ao longo de algumas semanas. Pensei em falar, a cada texto das dúvidas e equívocos que giram em torno da prática da Psicoterapia. Lembrando sempre que o intuito das minhas exposições diz respeito à minha prática, à minha experiência de trabalho na clínica psicológica.

O tempo que dura um acompanhamento/tratamento psicoterápico, os atendimentos de crianças, psicoterapia é para “maluco”, psicologia e medicina, psicologia x psiquiatria x psicanálise, a interação do psicólogo com o cliente/paciente (psicólogo não fala, só escuta) …e outras dúvidas e equívocos que eu for lembrando. E vocês também sintam-se a vontade para suas colocações, que serão bem vindas e me ajudarão enormemente.

Vamos começar com as seguintes frases: “será que demorará o meu tratamento?” ou “no mínimo dez anos que eu vou ficar aqui falando, né?”.

Muito difícil responder a essas questões, por vários motivos. De onde vem essas dúvidas? Elas não surgiram no imaginário das pessoas sem um motivo.

Para clarear podemos remontar à própria história da Psicologia e de quebra citar também a Psicanálise, muito suscintamente para que eu não receba pedradas (rs).

Tanto a Psicologia, quanto a Psicanálise são “conhecimentos” muito novos, muito recentes. Para vocês terem uma ideia, a Psicologia só foi reconhecida como profissão no Brasil em 1962, ou seja, temos aí mais ou menos cinquenta anos de vida da Psicologia reconhecida aqui no Brasil. Pessoal, estou falando de Brasil. Na Europa e Estados Unidos, muito antes disso, já haviam estudos avançados da Psicologia.

Para tentar entender essa dúvida, sobre o tempo da psicoterapia ou da terapia “infinita” será preciso também citar a Psicanálise.

O que é a Psicanálise?

Psicanálise foi o conhecimento ou ciência criado por Sigmund Freud. Ele “descobriu” uma instância psíquica que chamou de inconsciente. Resumindo, a Psicanálise seria o estudo do inconsciente

Freud foi um médico austríaco, que especializou-se em neurologia e interessou-se ao longo de suas pesquisas e estudos pela Psicologia. Note-se que a Psicologia surge primeiro, a Psicanálise, criada por Freud surge depois. E tamanha foi a importância da Psicanálise para a Psicologia e para o mundo, que geralmente associamos as técnicas e conceitos da Psicanálise com a Psicologia. E isso existe até hoje!

Nossa! Como é difícil escrever sobre isso. Para os profissionais da psicologia, pelo menos os clínicos, essas ideias já encontram-se, ou pelo menos deveriam encontrar-se, mais ou menos claras. Então parece tudo muito óbvio para nós. Mas explicar, de forma razoável, para um público que não é da área não é tarefa fácil.

O que importa é termos em mente que essas “verdades”, “meias verdades” e “inverdades” não surgiram do nada. Elas têm uma história, assim como nós temos a nossa história também.

Voltando a nossa questão para entendermos o por que as pessoas acham que o trabalho de Psicoterapia dura anos, é para a vida toda ou não termina. Posso dizer que isso é uma “meia verdade”. Ora, por que uma meia verdade Luciano?

É verdade, por que foi justamente da Psicanálise que surgiu a ideia de um longo período de tratamento para que o paciente obtivesse sucesso ou, como diriam os psicanalistas, obtivessem “cura” dos seus males. Freud, para entender o Inconsciente das pessoas utilizava a sua escuta para analisar o material que era produzido através da fala. Era um trabalho muito minucioso, que durava, segundo os relatos das fontes históricas relacionadas à Psicanálise, muito tempo. Entenderam agora o uso também da palavra “análise” para nos referirmos à Psicoterapia? Pois é…

Com isso, passamos a compreender que a Psicanálise seria apenas uma parte da Psicologia, parte, diga-se de passagem de suma importância para a Psicologia. Esta última, por sua vez, é muito mais ampla em termos de atribuições, atividades e áreas de atuação.

Estamos nos referindo à Psicologia Clínica, onde podem ser usadas as técnicas da Psicanálise. No entanto, a Psicologia Clínica abrange um número grande de técnicas. A Psicanálise, como dito anteriormente é uma delas.

Em algumas orientações teóricas o Psicólogo pode determinar o número de atendimentos que serão necessários para o indivíduo.

Em outras abordagens é possível trabalhar com um planejamento prévio onde são analisados os objetivos da Psicoterapia.

Sendo assim, o tempo que durará uma psicoterapia dependerá da abordagem teórica, do estilo do profissional, da demanda de quem está procurando atendimento, da relação que se estabelece entre dois ou mais fatores citados anteriormente etc.

Eu, particularmente, não determino um tempo para a duração da psicoterapia. Procuro respeitar os limites e as possibilidades de cada indivíduo que me procura. Na verdade, a clínica me surpreende todos os dias.  Tive pacientes, por exemplo, que me acompanharam do início ao fim do estágio na Universidade. Outros me acompanharam para além dos muros da faculdade. Alguns me acompanham há algum tempo… Outros vi somente uma vez…Há aqueles que se dão alta, outros simplesmente desaparecem. Existem aqueles que param e depois retornam.

E assim, a clínica e o aprendizado de quem acompanha e escuta o sofrimento do outro vai se ampliando, se remodelando e oferecendo cada vez mais ferramentas para a realização de um trabalho sério e comprometido com a complexidade de cada ser humano que chega até o consultório.

Pessoal, essa série ainda não terminou não! Hoje conversamos sobe o tempo que dura um acompanhamento/tratamento.

Na próxima ainda não decidi se compartilho com vocês: “os atendimentos de crianças” ou “psicólogo é para maluco”.

Me ajudem! (Rs)

Um forte abraço a todos e até breve.

Luciano Rodrigues

CRP 05/33935

“Você sabe com quem está falando?”

O título, mais uma vez é proposital e talvez considerem que não tem a ver, mas vamos lá!

Ainda continua nos noticiários a polêmica envolvendo o juiz e a agente da Lei Seca.

Partindo dessa polêmica, vamos refletir sobre alguns assuntos. E é claro, falar de Psicologia também.

Não é incomum na minha prática ocupar esse papel, o de juiz. Ele, na maioria das vezes, encontra-se camuflado, escondido, nas entrelinhas…

Mas por que você diz isso Luciano? Bom, vamos seguindo. Construirei esse texto com alguns exemplos.

“O médico disse que seria melhor procurar um Psicólogo”. Ou então: “poxa…aqui precisamos tanto de um Psicólogo…”. E quando vamos investigar, indagar o porquê dessa “necessidade” não se sabe muito bem o motivo. O que se sabe é que existe um problema, vários problemas ou até, por incrível que pareça, nenhum problema que não se consegue dar conta.

Na clínica (refiro-me ao consultório): “não sei explicar o que sinto. Eu tenho tudo, mas falta alguma coisa que eu também não sei o que é!”.

Na escola: “aqui sempre precisamos de um psicólogo! As crianças não aprendem, tem mal comportamento, estão cada dia piores.”

No casamento: “o casamento está em crise. Precisamos de uma terapia.” 

Em casa, com os filhos ou filho: “essa agitação, essa rebeldia, sem motivos? Temos que procurar um Psicólogo.”

Confesso que me sinto muito mais tranquilo quando a opção primeira é a procura da Psicologia, digamos, na melhor das hipóteses, para dirimir uma dúvida, solicitar um acolhimento, ter um entendimento do que esteja acontecendo. Considero que toda queixa, seja de qual ordem for pode gerar sofrimento.

Fico preocupado quando a primeira opção é a solução através da medicação. O famoso remedinho para dar uma segurada na ansiedade, calar a tristeza, adormecer a angústia, aliviar a patada de elefante no peito…Já ouviram falar na “medicalização da vida”? Pois é. É disso que estou falando. Podemos pensar nesse tema para uma discussão futura. Aguardarei sugestões.

Perceberam como é corriqueiro pedir a um outro que bata o martelo para nós? Nesse caso, eu puxo a responsabilidade para mim, pois citei exemplos da minha prática profissional cotidiana.

Quando estamos munidos então do nosso carimbo e da nossa caneta…Aí a situação complica-se mais ainda. Querem exemplos?

“Doutor a escola quer um laudo dizendo o que ele (a) tem.”

“É preciso atestar se o (a) adolescente voltará a delinquir”

Com esse aparente inocente procedimento podemos construir ou destruir. Mas no momento em que atestamos, carimbamos e canetamos…pode não ter mais volta. Atestamos que uma criança é “burra”(muito sutilmente), que ela não pode aprender, por exemplo. E ela poderá acreditar em nosso atestado para o resto de sua vida.

Determinamos que alguém é irrecuperável.

Ou pior que isso: tentamos uma justificativa “científica, psicológica”, para o que não conseguimos dar conta.

Nesses casos somos o juiz. Determinamos o destino das pessoas. Somos convocados a responder e respondemos. Afinal de contas somos respaldados pela ciência, pelo nosso conhecimento, pelo nosso saber.

Lembrei agora da imagem do adolescente amarrado no poste, aqui na zona sul do Rio de Janeiro. Vários juízes. Julgaram e executaram a sentença do suposto marginal. E um tempo depois, os “juízes” desse caso são descobertos nas mais variadas atividades ilícitas que incluíam roubo, estupro, tráfico…Mas, como se tratavam de juízes, imaginavam que nunca seriam pegos.

Existem aqueles que ocupam esse lugar literalmente. São JUÍZES alguns juízes, alguns médicos, alguns psicólogos, alguns educadores, alguns policiais. Mas se consideram como tal por que a maioria de nós permite a ocupação desse lugar.

É muito, muito mais fácil e cômodo deixar a decisão para o outro, geralmente quem julgamos saber mais que nós.

Assim nos sentimos menos culpados. E talvez seja por isso que o JUIZ se ache no direito de infringir as leis e se considere um ser divino.

Ops! Posso receber ordem de prisão!

Abraços a todos!

Pessoal, prefiro a construção de textos curtos, com uma linguagem acessível. Toco em temas delicados, que muitas vezes podem carecer de aprofundamento. Peço então o seguinte: escrevam para mim as dúvidas, os questionamentos, o que não consideram claro, o que discordam.

O campo da Psicologia é amplo, por vezes disperso. Porém, o que procuro fazer é trazer a Psicologia para perto de nós. Afinal de contas, para mim, Psicologia fala da vida e a vida acontece todos os dias.

“Tô com uma ansiedade…”

“Tô com uma ansiedade…não sei explicar por que.”

Pedi na página do Facebook que elegêssemos um tema para ser explorado no blog (sugeri: depressão, ansiedade, síndrome do pânico e bipolaridade). A maioria pediu que eu falasse sobre ansiedade.

Mas uma coisa chamou minha atenção. Surgiram expressões como: “mal da modernidade”, “devido ao mundo em que vivemos hoje”, “mal do século” e até mesmo “ansiedaaaaaaadeeeeeee” (que particularmente achei ótimo!)

Considero que seria muito chato, para quem está lendo e não é da área, enumerar uma série de sintomas (o que a pessoa sente) ou as causas do que chamam de ansiedade. Seria igualmente chato citar estratégias, técnicas de relaxamento ou quem sabe? Indicar um especialista médico para a prescrição de um “remedinho”. Tentarei encaminhar o texto de outra forma. Vamos lá!

Muitas vezes o que encontramos nas falas dos pacientes é uma dificuldade enorme em definir e/ou explicar o que estão sentindo. O que fica claro para nós, que estamos escutando, é a existência de um enorme incômodo. Ah! Mas tem os suores, os “brancos” na hora de uma simples conversa, o nervoso quando se está dentro de um local com muitas pessoas ou do ônibus ou metrô lotado…E pedir informações? O estômago também costuma aparecer como prejudicado na infindável lista da ansiedade.

Quem se considera, é ou fica ansioso, sabe muito bem do que estou falando. Mas a questão que coloco é a seguinte: o que o “mundo de hoje” tem a ver com isso? Será que ele é o responsável pelo surgimento desses sintomas? Será que o mundo de “ontem” era isento das preocupações existentes hoje em dia?

Vamos analisar as expressões citadas por vocês. Enquanto escrevo me bate uma preocupação de falar o mesmo do mesmo, do lugar comum, do óbvio do óbvio. Por incrível que pareça é isso mesmo! É o simples, o cotidiano, o lugar comum, é a vida que se apresenta todos os dias para nós. E é a vida, a correria nossa de cada dia que faz com que nos sintamos ansiosos.

A preocupação com o tempo, principalmente. Sim, por que pra tudo temos um tempo. Temos horário para chegar ao trabalho, para dormir, para comer, para se divertir…O almoço é hoje, mas já estamos pensando no cardápio de amanhã.

E por falar em almoço, em comida, já perceberam que as festas de fim de ano já invadiram as nossas casas?

Já é Natal em determinada loja de departamentos. E a famosa árvore da Lagoa Rodrigo de Freitas aqui no Rio de Janeiro será inaugurada na próxima semana.

E aí surge a ansiedade de: bolar o cardápio da ceia, dos presentes que serão comprados, quem vai pra casa de quem. Ansiedade em ter que enfrentar aquele trânsito terrível do dia vinte e três ou do dia vinte e quatro, geralmente ensolaraaaaado para comprar o que está faltando. E todo mundo com pressa, apressado, nervoso…ansioso.

E agora para terminar, me posiciono a respeito das perguntas que eu mesmo formulei no início do texto motivado por vocês: sim, considero que o que chamam de ansiedade, pelo menos a que lido no cotidiano da minha prática profissional é sim, também fruto do mundo em que vivemos hoje! Da pressa, da correria, do perfeccionismo, da competição e do controle que tentamos estabelecer sobre o tempo.

Saindo um pouco da descontração (que foi proposital e acredito imprima uma leveza no texto) quero dizer que ansiedade aparece recorrentemente como queixa dos pacientes. Quem se sentir incomodado emocionalmente pelos sintomas e pelos transtornos que ela acarreta deve sim pedir orientação a um profissional. Algumas vezes será necessária a intervenção de dois profissionais (um médico psiquiatra e um psicólogo) de outras vezes somente um psicólogo. Algumas vezes uma intervenção com remédios poderá ser momentânea e a do psicólogo também.

Na minha prática posso afirmar o seguinte: a ansiedade, na maioria das vezes, diz respeito ao nosso ritmo acelerado de vida! Ás diversas atribuições que nos impõe ou que “puxamos” para nós, algumas vezes sem necessidade. Por falar nisso, que tal falarmos em uma outra ocasião em SABOTAGEM? Sabe quando nós próprios nos sabotamos? Pois é…Pode ser um tema interessante!

Um grande abraço a todos!

“Psicólogo tem religião?”

O título talvez não devesse ser esse…Porém, foi proposital e explicarei o porquê.

Muito, muito complicado falar sobre o tema religião, quando não arriscado.

A motivação “nasceu” de duas situações: dos atendimentos em consultório e de um episódio de discussão em um fórum do facebook.

No primeiro caso já me foi perguntado mais de uma vez: “o senhor tem religião?” ou “o fato do psicólogo ser adepto dessa ou daquela religião influi na sua prática?”

No episódio do facebook a situação foi a seguinte: em uma comunidade de Psicologia um dos participantes queria a indicação de artigos de Psicologia que “desmascarassem” as “farsas” praticadas por adeptos da umbanda e do candomblé. O que ele chama de “farsa” são os fenômenos que ocorrem durante os ritos dessas religiões (“transe” ou incorporação, ingestão de bebidas alcoólicas sem posterior efeito no indivíduo etc.). Não precisa falar a confusão que se formou. Alguns criticaram a forma como o participante se referiu às religiões citadas: “farsa”, “supostas divindades”. Outros não consideraram a colocação com gravidade, uma vez que ele só pedia sugestões de artigos de Psicologia.

Independente do desdobramento desse episódio na rede social, vou me ater no objetivo desse texto, que é relatar o meu posicionamento com relação a essas questões.

O profissional Psicólogo pode ser adepto de qualquer crença ou religião, isso é uma premissa garantida pela nossa Constituição. Todos nós, cidadãos, temos a liberdade e o direito de acreditar, professar e exercer o que consideramos “bom”, “certo”, “conveniente”, “verdadeiro”.

O que é vedado ao Psicólogo é “linkar” a sua prática profissional com a sua crença, religiosidade, convicção. Essa premissa está muito clara no Código de Ética Profissional do Psicólogo. Podemos encontrar “Psicologia Cristã”, “Psicologia Espírita” e por aí vai, no entanto, nenhuma dessas denominações são aceitas pelo Conselho Federal de Psicologia.

O Psicólogo que infringir tais determinações poderá sofrer sanções que vão desde a advertência até a cassação de seu registro profissional, como já aconteceu recentemente aqui no Rio de Janeiro e que alguns de vocês ou a maioria tomou conhecimento.

Mas e no consultório Luciano? Quando o paciente o questiona sobre a sua religião ou quando ele diz, como já aconteceu comigo: “se você fosse da minha religião acho que o tratamento seria mais fácil…”.

Devo confessar a vocês que não é uma situação simples. O que acontece quando estamos diante de um ser humano, escutando suas angústias, sofrimentos, dúvidas, é tão complexo, tão grandioso, tão singular, que é difícil expor em palavras.

O meu posicionamento e argumento é o seguinte: na relação que se estabelece naquele momento tão caro e importante para o paciente o que importa, na verdade, é a relação que o mesmo estabelece com as suas verdades. Para mim, não importa se ele é dessa ou daquela crença ou religião. Me esforço, através da receptividade e disponibilidade, para que o mesmo sinta-se à vontade e acolhido com a sua escolha. O mais importante é que a religião ou crença escolhida possa, em menor ou maior medida, dar conta da vida. Pois considero que a Psicologia diz respeito a vida!

Pessoal, esse é o primeiro texto que produzo para blog. Não pretendo que eles sejam longos, cansativos. Desejo sim, que eles tenham uma linguagem acessível e que possam estar ao alcance de todos. Não se trata, de forma alguma de banalizar a Psicologia, mas sim de aproximá-la cada vez mais de quem ela realmente pertence: as pessoas.

Espero que tenham gostado e aguardo os comentários.

Um grande abraço a todos!

Psicólogo Luciano

CRP 05/33935

Breve apresentação…

Sou Luciano Rodrigues, Psicólogo, formado pela Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro.

O desejo de criar esse blog aconteceu no momento em que percebi que era possível compartilhar com um número considerável de pessoas temas relevantes da vida: o sofrimento, as relações, as dúvidas, as dificuldades, as angústias…

Nesse sentido, a experiência que venho acumulando ao longo da minha prática clínica, acredito, poderá ser útil a muitas pessoas.

Gostaria de compartilhar com vocês a VIDA, discutindo os mais variados temas. Tentar desmistificar certas ideias, falar da Psicologia de forma simples e acessível. Mostrar que a Psicologia está mais próxima de nós do que imaginamos!

Um abraço a todos!

Psicólogo Luciano Rodrigues

CRP05/33935