Primeiramente quero comentar sobre algumas críticas que tenho recebido de outros profissionais.
A forma simples e acessível de dialogar com os leitores não agrada aos mais “exigentes”, academicamente falando.
Mas tudo bem! O que gosto de compartilhar, os críticos talvez saibam até mais do que eu. Quem eu desejo atingir são as pessoas que encontram-se próximas da minha prática cotidiana e não escrevo diretamente para os colegas de profissão.
Vamos ao tema do nosso bate-papo: “Psicoterapia: Verdades, meias-verdades e inverdades.” O primeiro título pensado foi: “Psicoterapia: conversando sobre mitos”. Mas pensei, pensei e cheguei à conclusão que esse título talvez não fosse adequado para o que eu desejo expor.
A palavra MITO, dentro da orientação teórica que acredito, e na importância que seu significado carrega ficaria desvalorizada, despida de seu verdadeiro valor, tanto em termos Psicológicos, quanto em termos sociológicos.
Darei um exemplo: muitas religiões, acredito que a maioria delas, baseiam-se em Mitos para explicar as suas práticas, os seus rituais, as suas “verdades”. Se considero que o mito é uma inverdade, ou que não existe ou existiu eu poderia estar ofendendo os religiosos, dos monoteístas aos politeístas.
Sendo assim, o MITO para mim, seja ele qual for, é de suma importância para a formação da personalidade humana e para a organização social, por isso não utilizei a palavra, pois denotaria como algo que não existe, que se caracteriza como mentira ou mesmo equívoco.
E como acredito que a função do Psicólogo é entender a VIDA no sentido mais amplo possível, inclusive levando em consideração a força dos Mitos resolvi então…não usar o termo mito.
Não esgotarei esse assunto aqui e agora nesse texto, mas ao longo de algumas semanas. Pensei em falar, a cada texto das dúvidas e equívocos que giram em torno da prática da Psicoterapia. Lembrando sempre que o intuito das minhas exposições diz respeito à minha prática, à minha experiência de trabalho na clínica psicológica.
O tempo que dura um acompanhamento/tratamento psicoterápico, os atendimentos de crianças, psicoterapia é para “maluco”, psicologia e medicina, psicologia x psiquiatria x psicanálise, a interação do psicólogo com o cliente/paciente (psicólogo não fala, só escuta) …e outras dúvidas e equívocos que eu for lembrando. E vocês também sintam-se a vontade para suas colocações, que serão bem vindas e me ajudarão enormemente.
Vamos começar com as seguintes frases: “será que demorará o meu tratamento?” ou “no mínimo dez anos que eu vou ficar aqui falando, né?”.
Muito difícil responder a essas questões, por vários motivos. De onde vem essas dúvidas? Elas não surgiram no imaginário das pessoas sem um motivo.
Para clarear podemos remontar à própria história da Psicologia e de quebra citar também a Psicanálise, muito suscintamente para que eu não receba pedradas (rs).
Tanto a Psicologia, quanto a Psicanálise são “conhecimentos” muito novos, muito recentes. Para vocês terem uma ideia, a Psicologia só foi reconhecida como profissão no Brasil em 1962, ou seja, temos aí mais ou menos cinquenta anos de vida da Psicologia reconhecida aqui no Brasil. Pessoal, estou falando de Brasil. Na Europa e Estados Unidos, muito antes disso, já haviam estudos avançados da Psicologia.
Para tentar entender essa dúvida, sobre o tempo da psicoterapia ou da terapia “infinita” será preciso também citar a Psicanálise.
O que é a Psicanálise?
Psicanálise foi o conhecimento ou ciência criado por Sigmund Freud. Ele “descobriu” uma instância psíquica que chamou de inconsciente. Resumindo, a Psicanálise seria o estudo do inconsciente
Freud foi um médico austríaco, que especializou-se em neurologia e interessou-se ao longo de suas pesquisas e estudos pela Psicologia. Note-se que a Psicologia surge primeiro, a Psicanálise, criada por Freud surge depois. E tamanha foi a importância da Psicanálise para a Psicologia e para o mundo, que geralmente associamos as técnicas e conceitos da Psicanálise com a Psicologia. E isso existe até hoje!
Nossa! Como é difícil escrever sobre isso. Para os profissionais da psicologia, pelo menos os clínicos, essas ideias já encontram-se, ou pelo menos deveriam encontrar-se, mais ou menos claras. Então parece tudo muito óbvio para nós. Mas explicar, de forma razoável, para um público que não é da área não é tarefa fácil.
O que importa é termos em mente que essas “verdades”, “meias verdades” e “inverdades” não surgiram do nada. Elas têm uma história, assim como nós temos a nossa história também.
Voltando a nossa questão para entendermos o por que as pessoas acham que o trabalho de Psicoterapia dura anos, é para a vida toda ou não termina. Posso dizer que isso é uma “meia verdade”. Ora, por que uma meia verdade Luciano?
É verdade, por que foi justamente da Psicanálise que surgiu a ideia de um longo período de tratamento para que o paciente obtivesse sucesso ou, como diriam os psicanalistas, obtivessem “cura” dos seus males. Freud, para entender o Inconsciente das pessoas utilizava a sua escuta para analisar o material que era produzido através da fala. Era um trabalho muito minucioso, que durava, segundo os relatos das fontes históricas relacionadas à Psicanálise, muito tempo. Entenderam agora o uso também da palavra “análise” para nos referirmos à Psicoterapia? Pois é…
Com isso, passamos a compreender que a Psicanálise seria apenas uma parte da Psicologia, parte, diga-se de passagem de suma importância para a Psicologia. Esta última, por sua vez, é muito mais ampla em termos de atribuições, atividades e áreas de atuação.
Estamos nos referindo à Psicologia Clínica, onde podem ser usadas as técnicas da Psicanálise. No entanto, a Psicologia Clínica abrange um número grande de técnicas. A Psicanálise, como dito anteriormente é uma delas.
Em algumas orientações teóricas o Psicólogo pode determinar o número de atendimentos que serão necessários para o indivíduo.
Em outras abordagens é possível trabalhar com um planejamento prévio onde são analisados os objetivos da Psicoterapia.
Sendo assim, o tempo que durará uma psicoterapia dependerá da abordagem teórica, do estilo do profissional, da demanda de quem está procurando atendimento, da relação que se estabelece entre dois ou mais fatores citados anteriormente etc.
Eu, particularmente, não determino um tempo para a duração da psicoterapia. Procuro respeitar os limites e as possibilidades de cada indivíduo que me procura. Na verdade, a clínica me surpreende todos os dias. Tive pacientes, por exemplo, que me acompanharam do início ao fim do estágio na Universidade. Outros me acompanharam para além dos muros da faculdade. Alguns me acompanham há algum tempo… Outros vi somente uma vez…Há aqueles que se dão alta, outros simplesmente desaparecem. Existem aqueles que param e depois retornam.
E assim, a clínica e o aprendizado de quem acompanha e escuta o sofrimento do outro vai se ampliando, se remodelando e oferecendo cada vez mais ferramentas para a realização de um trabalho sério e comprometido com a complexidade de cada ser humano que chega até o consultório.
Pessoal, essa série ainda não terminou não! Hoje conversamos sobe o tempo que dura um acompanhamento/tratamento.
Na próxima ainda não decidi se compartilho com vocês: “os atendimentos de crianças” ou “psicólogo é para maluco”.
Me ajudem! (Rs)
Um forte abraço a todos e até breve.
Luciano Rodrigues
CRP 05/33935