O Psicólogo e a Educação Infantil

Esse texto foi escrito em Novembro de 2010 para um jornalzinho informativo que circulava mensalmente na Universidade onde fiz a especialização em Terapia de Família.

Nessa época eu trabalhava em uma instituição de Educação Infantil localizada na Cidade de Deus, zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Tratava-se de uma instituição pública, na ocasião comandada pela Fundação para a Infância e Adolescência (FIA), pertencente ao Estado. Depois ela passou para a administração municipal, respeitando a hierarquia dos poderes. Como se tratava de um universo novo (e maravilhoso) resolvi procurar uma supervisão para dar conta das minhas dúvidas e angústias com relação ao trabalho e às práticas dessa nova experiência.

Percebi que, além da supervisão, era também necessário me instrumentalizar teoricamente para me apropriar cada vez mais do meu trabalho. Como o trabalho com as famílias das crianças era intenso resolvi fazer Especialização em Terapia de Família. Deixo aqui registrado que não era o objetivo fazer “terapia” com as crianças, muito menos com as famílias. Mas entender e conhecer mais sobre as mesmas para que as intervenções fossem as mais satisfatórias é éticas possíveis.

Hoje meu contato com a Educação Infantil se dá através de supervisões que ofereço a colegas que tem interesse ou trabalham com Educação Infantil.

Confesso uma coisa: foi uma das experiências mais gratificantes que vivi e agradeço sempre a oportunidade de ter atuado nesse espaço.

“O Psicólogo e a Educação Infantil”

“O intuito em produzir esse texto partiu de algumas perguntas que geralmente me fazem quando falo de uma das minhas atividades: “O que o Psicólogo faz numa creche?”

A visão que ainda se tem do trabalho psi é o relacionado à parte Clínica, porém sua atuação passa a ser diferenciada quando o mesmo encontra-se inserido em uma instituição, seja ela de que natureza for (penitenciária, escola, empresa, hospital etc.).

Mas voltando a questão inicial e reformulando a pergunta: “Como o profissional da Psicologia pode contribuir para a Educação Infantil, mais especificamente atuando na instituição creche?”

Em primeiro lugar, o profissional que se aventurar nesse ambiente de aprendizado e conhecimento deverá levar em conta que não cabe nesse espaço os mesmos atendimentos que são realizados em postos de saúde ou em consultórios, onde geralmente, pratica-se o que chamamos Psicoterapia.

Outro ponto a ser levado em consideração é que o psicólogo estará atuando com outros profissionais como Professores, Auxiliares de Educação, Coordenadores e Orientadores Pedagógicos e em alguns casos além dos citados anteriormente poderá também deparar-se com Assistentes Sociais, Pediatras, Nutricionistas, Educadores Físicos, Fonoaudiólogos além de outros atores que não lidam diretamente com as crianças como o Pessoal de Apoio e a Direção.

Nesse sentido, é importante que o Psicólogo conheça a estrutura da creche e as atribuições dos outros profissionais para que possa, dentro de sua área de atuação, promover as intervenções que se façam necessárias.

Com relação às crianças propriamente ditas, além das observações constantes com as mesmas nas atividades propostas é importante que o profissional tenha acesso às famílias, podendo assim conhecer sua dinâmica e particularidades. Uma boa orientação ou um encaminhamento realizado de forma coerente ás famílias poderá trazer muitos benefícios à criança.

É pertinente também que o Psicólogo esteja instrumentalizado prática e teoricamente para lidar com temas específicos como: a) a adaptação, que não se resume à adaptação das crianças ao novo ambiente, mas também à adaptação das famílias com o começo de uma nova rotina, que é a entrada do filho na creche; b) a sexualidade infantil: não importa com qual faixa etária estaremos lidando, o tema da sexualidade estará presente na maioria das vezes no cotidiano da creche.

O profissional deverá estar preparado para orientar e acolher as dúvidas e anseios dos professores e também das famílias, que em alguns casos podem não se encontrar preparadas para lidar com a sexualidade dos pequenos; c) a parceria com os educadores: por mais que observemos as crianças, temos que admitir que a maior parte do tempo dos pequenos é passada com os professores. Sendo assim, devemos escutá-los com muita atenção, valorizando seus relatos e impressões acerca do trabalho que realizam e, principalmente da relação que estabelecem com as crianças.

Mesmo priorizando intervenções que procurem abarcar o maior número possível de indivíduos o Psicólogo deverá ter certa dose de sensibilidade para perceber sinais que apontem para possíveis patologias da infância relacionadas ao desenvolvimento como o autismo, por exemplo.

Além da sensibilidade citada anteriormente, a constante avaliação das suas intervenções aliadas a doses de criticidade com relação às suas práticas também é necessária para que não haja a produção ou reprodução de preconceitos e arbitrariedades. Com relação a isso, visitas periódicas e permanentes ao Código de Ética Profissional do Psicólogo auxiliam consideravelmente as angústias inerentes à profissão.

Outra possibilidade de avaliação de suas práticas é a constante atualização através de leituras e também, se possível, participação em grupos de estudos e supervisão com um profissional que possua mais experiência na área.

Por fim, é preciso respeitar os limites das nossas atribuições como profissionais, realizando os encaminhamentos que julgamos necessários e respeitar também nossas limitações como seres humanos tendo consciência de que nem tudo que chega a nossa escuta nós seremos capazes de resolver ou oferecer uma solução imediata.”

Luciano Rodrigues

Psicólogo/Psicoteraputa

CRP 05/33935

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